Trump busca mudança completa da ordem global e deixará marcas profundas, diz vencedor do Nobel

Por Rafael Balago Publicado em 6 de maio de 2025 às 19h06. 👁️ 0 visualizações 💬 0 comentários
Trump busca mudança completa da ordem global e deixará marcas profundas, diz vencedor do Nobel

Daron Acemoglu diz que ações do presidente terão efeitos duradouros, mas abrem oportunidades para países como o Brasil

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, busca uma mudança completa da ordem global atual e deverá deixar alterações profundas para as instituições de seu país. Nesse processo de mudanças, no entanto, há oportunidades para países como o Brasil, avalia Daron Acemoglu, prêmio Nobel de Economia em 2024.

"O segundo mandato de Trump está claramente caracterizado por uma série de políticas que tem o objetivo claro de revisar toda a ordem global. Trump está tentando mudar alianças globais estruturais, o sistema de comércio e a capacidade dos países trabalharem juntos", disse, durante uma palestra em um evento da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), realizado em São Paulo. Acemoglu participou por vídeo.

"O segundo mandato de Trump está claramente caracterizado por uma série de políticas que tem o objetivo claro de revisar toda a ordem global. - Rafael Balago

Nascido na Turquia e radicado nos EUA, Acemoglu, 59 anos, é professor do Massachussets Institute of Technology (MIT) e autor de diversos livros, incluindo "Por que as Nações Fracassam".

Ele apontou que, no cenário externo, as consequências ainda não estão claras. "Ninguém sabe como a ordem do comércio global será, nem como os ativos em dólar vão ficar", apontou. "O comércio global poderá se tornar algo irreconhecível, com alto custo para países como o Brasil."

No cenário interno americano, ele viu um cenário com danos à frente. "As instituições ficarão com marcas de Trump, com alta probabilidade, não só pelos próximos dez anos, mas pelos próximos 20 ou talvez 30 anos", disse

Em sua apresentação, Acemoglu afirmou que o mundo passa por uma série de mudanças profundas ao mesmo tempo. Além das alterações geopolíticas, há ainda o avanço da inteligência artificial, crise climática e alterações demográficas, como o envelhecimento da população.

Para ele, neste cenário, um fator definidor para enfrentar este novo cenário será como os países e setores usarão a tecnologia e como se adaptarão aos novos tempos. "Há oportunidades para os países europeus e o Brasil criarem uma política internacional mais independente e flexível", afirmou.

Trump como causa e consequência

Acemoglu apontou que Trump, apesar de ser o gerador de várias mudanças, é também consequência de um cenário em que os governos falharam em entregar promessas importantes, como uma melhor distribuição dos ganhos gerados pelo crescimento econômico e bons serviços públicos, como educação, saúde e infraestrutura, além de maior participação política.

"A qualidade e a efetividade dos serviços públicos decaiu nos Estados Unidos, na Europa e em partes da América Latina. Muitas pessoas passaram a sentir que não tinham muita voz e que o processo político tinha se tornado mais tecnocrático e menos responsivo às demandas das pessoas", afirmou.

Acemoglu aponta que as políticas de Trump, como a de buscar reavivar a indústria americana, não terão sucesso econômico, pois o sucesso econômico hoje é baseado pelas tecnologias digitais de automação, e não mais no trabalho industrial como era feito nos anos 1950.

Perguntado sobre o futuro da agricultura, ele respondeu que o cenário deverá mudar bastante na próxima década. "A tecnologia da agricultura será muito diferente, em termos de energia, sementes e transporte. A força de trabalho é muito jovem, mas trabalhadores jovens estarão em falta nos próximos 90 anos", disse.

Potencial da IA

Acemoglu disse que pessoalmente não se sentiu muito atraído pela IA, mas que a tecnologia tem grande potencial para trazer mudanças se for usada de modo a ampliar a produtividade dos trabalhadores e facilitar o acesso das pessoas ao conhecimento.

"A IA tem grande potencial para gerar prosperidade compartilhada se for usada não apenas para cortar custos, mas para oferecer novos produtos e serviços", disse.

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